Nunca diga que esta é sua última caminhada
77 anos do Levante do gueto de Varsóvia por Hugueta Sendacz
Em 1943, no episódio que ficou conhecido como Levante do Gueto de Varsóvia, homens e mulheres confinados no gueto estabelecido na capital da Polônia combateram as forças nazistas, e morreram lutando ao invés de serem levados aos campos de concentração. Comemorado anualmente nos quatro cantos do mundo, o Levante é também um marco fundador da Casa do Povo desde a sua fundação, em 1953.
Hugueta Sendacz, maestrina do Coral Tradição, traz seu depoimento sobre a data, feito de sua casa, em plena pandemia do covid-19.
Está se aproximando o dia 19 de abril e eu acordei pensando naqueles combatentes heróicos que lutaram para lavar nossa honra. Penso neles como se eu estivesse vendo da minha janela. Seus rostos iluminados, seus olhares decididos, seus passos marchando com coragem, para lutar e morrer, para que as gerações futuras possam viver livres.
Nem é preciso dizer: 40.000 pequenos Davis contra os gigantescos Golias fortemente armados: as Pantzers Diviosonen, que já haviam conquistado quase toda a Europa sem encontrar muita resistência dos governos e das populações.
Os combatentes do Gueto de Varsóvia foram os primeiros a enfrentar esses inimigos imensamente mais numeroso e muito bem armados.
Lutaram e morreram, mas venceram! Sim, venceram, porque sua luta foi heróica e justa. Seus ideais de liberdade e de direito a uma existência digna, não teve similar nessa guerra tão desumana.
Eles foram um exemplo para toda a humanidade e é preciso que sejam lembrados e honrados por todas as gerações.
Suas armas de fabricação caseira ou contrabandeadas, pareciam brinquedos contra os canhões e metralhadoras dos algozes nazistas, mas lutaram até com pedras, com bombas caseiras, com o que puderam improvisar, mas lutaram com a certeza de que era preciso não mais permitir que a barbárie vencesse sobre a terra.
José Sendacz, em um dos seus poemas escreveu: “Glória Eterna aos Heróis do Gueto de Varsóvia”. E eu, complemento dizendo: Glória Eterna a todos aqueles 40.000 heróis: homens , mulheres, jovens e crianças, que tiveram a coragem de lutar para preservar o que ainda restava de dignidade entre os judeus do Gueto de Varsóvia! Mesmo famintos, fracos, poucos, se uniram e enfrentaram a luta liderados por Mordechai Anilevitch e muitos outros como ele, de vários partidos políticos e religiosos.
Seu lema era: “Morrer com honra se não é mais possível viver sem honra”.
Gloria eterna a eles, que são nosso orgulho por não mais permitir que os judeus fossem levados como carneiros para as câmaras de gás.
Eu, me irmano com eles e me orgulho de fazer parte de um povo que gerou heróis desse porte.
Se essa comemoração do Levante do Gueto de Varsóvia fosse presencial, como temos feito desde 1944, seria preciso fazer um paralelo com todas as lutas que aconteceram desde a antiguidade até os dias de hoje.
Eu falaria sobre Moisez e a saída da escravidão no Egito , sobre a libertação dos escravos tanto no Brasil como nos Estados Unidos, na luta dos índios, na guerra do estabelecimento do Estado de Israel, na luta dos negros com Martim Luther King e principalmente sobre a situação ambígua do combate ao COVID-19. Em geral sobre a política desse nosso governo atual, mas …
Para terminar nada mais adequado do que o 1º verso do Hino dos Partizans do jovem compositor Hirsh Glik:
Nunca diga, que esta é sua última caminhada,
Apesar dos céus cinzentos esconderam dias luminosos.
A hora tão ansiada certamente chegará,
Nossos passos troarão — Estamos aqui!